Loomio
Tue 21 Nov 2017 9:06AM

Como nos referimos ao modelo de língua?

EMQ Eliseu Mera Quintas Public Seen by 106
C

Ângelo Cristóvão Sat 25 Nov 2017 4:28PM

Eduardo Maragoto sugeriu que colocasse aqui este comentário, já publicado na notícia do pgl:
Cabe justificar o nome "galego" de uma perspectiva étnica e histórico-etimológica. Tudo bem. Também se costuma argumentar que a "realidade" social, a "maioria" do povo, não está preparada para aceitar outro nome. É o argumento a que os políticos costumam prestar muita atenção, especialmente em época eleitoral.
Ora bem, há muito tempo, mais de 200 anos, que na Europa só há futuro para as línguas nacionais. As outras ficam no jogo da minorização sob diversos rótulos. O sintagma nominal que usa o "Estatuto de Autonomia para Galicia" para qualificar o galego é "lengua propia". No regime político anteriormente vigente na Espanha diziam "lengua regional" ou "dialecto", e vem sendo o mesmo, sempre definido em relação à língua comum, o castelhano.
Então vejo aqui duas evidências a ter em conta: 1.- O galego não é língua nacional na Galiza nem será ao ritmo que andamos. 2.- O galego converteu-se em língua nacional europeia sob o nome de português em meados do século XVIII. Já o dizia Murguia na altura dos Jogos Florais de Tui. Se isto tem a ver connosco, se nos diz respeito, tenhamo-lo em conta e sejamos consequentes. Ora, também podemos continuar o jogo do isolacionismo, olhar de perfil e dissimular, o que, por certo, se dá bem a alguns galegos.

EVS

Ernesto Vazquez Souza Sun 26 Nov 2017 9:00AM

Do meu ponto de vista todas essas denominações são contextualmente possíveis e diferentes, em matizes e sentimentos, a respeito do que queremos destacar em cada momento ou como coletivo.

Mas, para mim, hoje por hoje todas são dependentes, de mais, da história de contra, de resistência, de choque de grupos e da subalternize do reintegracionismo, como minoria, a respeito do modelo isolacionista que apropria do nome genérico.

Devemos deixar de pensar no isolacionismo e nas nossas divisões grupais.

Eu não marcaria mais qualquer matização inter-nós nem com o isolacionismo. O que nós empregamos, na Galiza, hoje, é galego e deve aspirar a ser O GALEGO: o modelo dominante social e academicamente. O que a gente identifique com galego.

No mundo aí exterior, pelo momento, o nome é Português, mas por mim aspiraria também no futuro a que fosse UM PORTUGUÊS reconhecido como tal. O português da Galiza, ou Galego (como e com o status do Angolano ou o Brasileiro).

Saúde,
Ernesto

JMV

Jesus Manuel Valcárcel Sun 26 Nov 2017 9:52AM

As leis estão hierarquizadas. Acima está a Constituição, depois os Estatutos, as normas que os desenvolvem, etc. Nenhuma lei de rango inferior pode desmarcar-se (sair-se do marco) das leis superiores que a amparam.
As principais leis que afetam o nosso idioma são o Art. 3º e 27 da Constituição Espanhola, o art. 5º do Estatuto e a Lei de Normalização Lca., de abril de 1983, e os decretos que a desenvolvem
Que o Estatuto reconheça ao nosso idioma o caráter de “lingua propia” foi tomado no seu dia do modelo catalão. É um facto muito importante, muito, porque estabelece uma vinculação (histórica) entre língua e território.
Há duas maneiras de avançar para a consecução dos nossos objetivos: uma legal (conseguindo leis que os favoreçam) e outra… (não necessariamente ilegal) através da ação, persuasão, etc.
Podem-se fazer muitas atividades de promoção mas é muito importante “mudar as leis”, é o mais importante. E talvez essa oportunidade vai-se apresentar pronto. À vista da situação política pela crise na Catalunha vai-se modificar (mais que provavelmente) a Constituição (e com ela, em cadeia como acima disse, as leis subordinadas; isto é, os Estatutos). E esse será o grande momento para atuar. Na minha opinião, chamar só “português” á nossa língua nesse momento seria política e socialmente problemático (e mesmo agora… acho que a sociedade galega não está preparada). Aliás, a denominação “galego-português”, pela extraordinária lírica medieval comum, é conhecida no mundo inteiro. Renunciar a esse binómio seria perder um património muito valioso. Se essa oportunidade chega… (que não é impossível), esse será o momento de legislar que o “galego-português é a língua própria da Galíza”.

C

Ângelo Cristóvão Sun 26 Nov 2017 5:45PM

Bom, o assunto tem muitas facetas, vertentes e perspetivas. Considerando esta hipótese de mudança constitucional, parece que se abrem possibilidades. Veremos se do âmbito da política, com predomínio do PP, pode vir algo novo.
Imaginemos uma situação em que o galego, oficial "de aquela maneira" na Comunidade Autónoma de Galicia, é reconhecido na Galiza como língua portuguesa, em termos académicos, sociais, políticos e, em última instância, também no plano jurídico. Entendo que o movimento reintegracionista estaria trabalhando para criar uma situação como esta, que implicaria ultrapassar a "interposição" do castelhano, à semelhança do que tem definido Lluís Aracil em termos sociolinguísticos em relação às línguas do espaço Espanhol. Seria, portanto, uma língua oficial da União Europeia em território do Estado Espanhol. Ora, dificilmente se chegará a essa situação evitando usar o nome "língua portuguesa". O que não impede que seja compatível com outras denominações em determinados âmbitos, numa espécie de distribuição de funções. Como diz Ernesto, a situação é complexa e diversa.

JMV

Jesus Manuel Valcárcel Sun 26 Nov 2017 9:53AM

Bom domingo.

C

Ângelo Cristóvão Sun 26 Nov 2017 6:05PM

Para acrescentar outro comentário, paralelo, queria dar uma palavrinha sobre a Galiza e a CPLP. Um dos problemas que encontram o Governo galego e outros representantes do nosso país numa reunião desse âmbito é de tipo hamletiano. Ser mas não ser, estar mas não estar. Numa conferência internacional, perceber o português de todas as partes do mundo, mas dizerem que eles falam uma língua diferente que se escreve de forma diferente. E deixar o público sem perceber nada porque, no fim de contas, os galegos querem estar dentro, ou fora? Vale também para o Consello da Cultura Galega, que, por dizê-lo suavemente, não consegue fazer-se entender ;).
Tudo por evitar dizer que os galegos falamos português, um português algo diferente e tudo o mais, mas a mesma língua. Numa hipotétida entrada da Galiza nesse organismo internacional, uma das questões a negociar entre a direção da CPLP e o hipotético negociador em nome do Governo galego, seria a participação da Galiza nos organismos que regulam a língua portuguesa. Sem uma declaração clara e explícita do Parlamento ou do Governo, através do Diário Oficial da Galiza, de que o português (português padrão) é legalmente válido na Galiza, não poderíamos participar nesses organismos. Estaríamos fora do "núcleo rígido", no melhor dos casos ao nível da Turquia, com consequências políticas negativas para os nossos interesses nacionais. Sirva para refletir sobre esta faceta do assunto.

JLF

Joám Lopes Facal Sun 26 Nov 2017 6:30PM

Admiro a facilidade com que galegos ilustrados e activistas lingüísticos prescindem da denominaçom de Galego, sem adjetivos, para o idioma cá nascido, cultivado e resistente.
Tal atitude complementa-se com a entusiasta identificaçom com a denominaçom "Português na Galiza" como signo certo do afastamento do galego de transmisson oral que constitui o nosso alicerce cultural e língua nacional.
Como aderente convicto á tarefa de preservaçom e cultivo do padrom galego do português internacional quero fazer doaçom pública da minha quota-parte de português da Galiza que nom me representa.
Persoalmente, estudo e cultivo o português, o galego, simplemente vivo-o na sua problemática existência. A adesom a um círculo dedicado á difusom português nom me concerne, já estou suficientemente sensibilizado ao respeito.

APF

Alberto Paz Félix Mon 27 Nov 2017 9:29AM

O Joám Lopes Facal, em vários comentários, está a criticar a denominação que eu e outras seis pessoas pelo momento escolhemos: "Português da galiza".

Em palavras do próprio Joám "Desconsideradas denominaçons tam torpes como Português da Galiza (...) O assunto fulcral, contodo, é: acreditamos ou nom numha variante nacional persistente e legítima ou subsumimo-la na categoria residual de subproduto irrelevante do(s) português(es)? That´s the questom, caros amigos." Ademais de citar noutro comentário que: "denominaçom Português na Galiza como signo certo do afastamento do galego de transmisson oral que constitui o nosso alicerce cultural e língua nacional".

Gostaria de responder a estas críticas desde a minha visão. Não é mais que a minha opinião, e respeito a opinião do Joám fronte a minha. Acho que tenho que responder a duas questões:

-Português da Galiza não quer marcar uma submissão a Portugal? É claro que a reunificação linguística com o português, se suceder algum dia, não será um completo benefício para o galego. Formas da nossa língua deixarão de ser utilizadas e outras traídas de fora tomaram o seu lugar. O problema é que a situação socio-linguística atual da sociedade galega impede a criação dum padrão "nacional" próprio e independente, como já mostrou de maneira evidente a normativa RAG/ILG. Num mundo de línguas nacionais, e vivendo numa nação onde mais do 60% da população gosta mais do termo "Região" para chamarmos ao nosso território, com os partidos espanhois monopolizando a nossa política, a defensa do galego sem a ajuda do português é inviável. Ora bem, se nos metermos no sistema linguístico português, o nosso papel inicial seria bastante submisso, simplesmente porque seriamos parte da periferia. O núcleo por suposto não seria só o português de Portugal, mas também o português do Brasil. Quando países como Angola e Moçambique, com muita mais população e economia do que a Galiza, mostraram dificuldades para poder competir com estes dois países, fica mais que claro que Galiza não poderá, num princípio, participar a pé de igualdade com Brasil e Portugal. Esta situação, com certeza, iria mudando segundo se consegui-se a normalização do nosso idioma no nosso próprio país e no mundo. A alternativa a isto seria o que está a acontecer, a espanholização e eliminação da língua galega. Mas, isto não é, como se plantejou durante a Transição, um debate que nós, como colónia, devemos ter sobre qual é o nosso colonizador, pois espanhol e português têm uma relação diferente com nós. O português e o galego, no mínimo, são línguas muito semelhantes com um fundo comum, no máximo, são simplesmente variantes regionais da mesma língua. Uma situação de submissão seria daninha só para aquelas (poucas) palavras de origem popular que por deriva desde o século XV são diferentes ao português, mas estas são escassas, e a maioria das vezes convivem dialetalmente com a forma utilizada no Portugal e no resto da lusofonia. O espanhol é a língua que leva desde o século XV a destruir a nossa língua, cada vez importando-se mais dentro das classes populares e na classe média, e já tendo o controle absoluto da classe alta (que já muitos deles nem na Galiza vivem, nem na Galiza nasceram). Ademais, não só forma parte dum fundo comum diferente, mas ademais despreza o galego e todo o que tenha a ver com ele. Só faz falta que miremos às crianças urbanas para ver como cada vez têm menos acento galego, menos conhecimento do nosso léxico e alguns até um ódio direto pela língua galega, essa coisa rara que se ensina na escola e que lhes resulta muito difícil (a diferença do inglês, que é uma língua precisa e fácil de aprender). Acho que o nosso idioma, neste caso, não tem outra alternativa. Ou nos convertemos, temporariamente, em periferia do sistema português, ou esperamos a que Galiza for independente, é dizer, um milagre.

-Português da Galiza não despreza o galego popular? Todas as denominações cá utilizadas desprezam algo, não há quase maneira de ser "respeitoso 100%" nesta questão. Para podermos denominar ao nosso idioma de maneira correta, deveríamos dizer: "Galego-português-brasileiro-angolano-moçambicano-guineense-caboverdiano-sãotomense-timorense-macaense-goense". É, ainda assim, estaríamos a desprezar a ilha de Príncipe fronte a São Tomé. Ao igual que a denominação "Português da Galiza" não menciona o fundo popular do galego, a denominação de "Galego" simplesmente despreza primeiro o fundo comum medieval partilhado com Portugal, e que depois Portugal conservou; e ademais toda a produção, popular e intelectual, sucedida Além-Minho e além do Atlântico.

C

Ângelo Cristóvão Tue 28 Nov 2017 1:07AM

Prezado amigo, não posso concordar com o parágrafo "Ora bem, se nos metermos no sistema linguístico português, o nosso papel inicial seria bastante submisso, simplesmente porque seriamos parte da periferia". Pelo menos esse não é o teor nem a atividade da AGLP nos contextos académicos e diplomáticos em que pode participar. Lamento não poder dar mais detalhes. Pensando no espaço da CPLP, em que se definem políticas internacionais de promoção da nossa língua, a participação da Galiza como país só poderia dar-se com a sua admissão formal, e estamos algo longe disso. Por enquanto, como já indiquei, a sociedade civil está representada pola AGLP.

ACL

Antia Cortiças Leira Mon 27 Nov 2017 9:51AM

Não poderia expressar melhor @albertopazfelix, obrigada. Além do mais o @joamlopesfacal diz «como signo certo do afastamento do galego de transmisson oral que constitui o nosso alicerce cultural e língua nacional» penso que pelo menos "o português" diz bom e não bueno, sexta e não viernes, e uma listagem infinita, e no que diz respeito à oralidade só é preciso ver que se na marinha (bem longe de Portugal) ainda existe o sesseio em "luz" será porque o modelo de oralidade que conhecemos atualmente não é o mais "antigo" e só é preciso ouvir a pessoal da costa da morte galego-falante e ver que se parece bastante mais com o "português de trás-os-montes" ou até com o "português angolano" do que o de qualquer pessoa de uma cidade galega, neo-falante ou da TVG...
Deixariam às vossas filhas e filhos levarem o apelido da mãe à frente...?
E ainda falando de leis o português é "língua estrangeira" mais "língua ambiental" ao mesmo tempo, e ainda faz parte do antigo nome composto do galego medieval e/ou "galego-português"... Que caos... Podemos alcunhá-lo como o " mil-nomes" ou "inomeável" ou continuarmis eternamente com este debate e não avançarmos mais...
Pasem muito bom dia!!

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