Desgênero
No idioma português e seus derivados, é necessário utilizar subterfúgios para designar o gênero nas frases.
Utilizou-se (e provavelmente ainda se utiliza) muito os caracteres x e @ informalmente e às vezes até pseudo formalmente como forma de desgenerizar as sentenças, mais como uma forma cosmética de deflagrar uma postura anti preconceituosa do que efetivamente desconstruir convenções engessadas.
Como não há interesse ou mesmo acordo acadêmico sobre a necessidade de se criar um caractere novo ou decidir um oficial para este fim, com o tempo concordei com alguns amigos que também escrevem que a melhor postura é privilegiar o feminino quando se utiliza a grafia formal.
Isto demonstra o seguinte:
- Postura anti patriarcado caracterizada por privilegiar o gênero feminino em detrimento do gênero masculino;
- Desobediência civil caracterizada por descumprir o consenso formal de que o masculino deveria ser privilegiado, visto que não há motivo racional para seguir esta norma à risca e não segui-la não representa prejuízo para o conteúdo do texto;
- Combate ao preconceito caracterizada pela tentativa de incluir ao invés de excluir atrizes e atores da linguagem.
Exemplos
Eu gostaria que as(os) piratas usassem menos elementos masculinos e mais femininos em seus textos.
Ao invés de dizer que estamos tentando incluir mais atores em nossas frases, eu digo que estamos tentando incluir mais atrizes e atores. Isto é mais desejável do que dizer que estamos incluindo mais atores e atrizes, porque o que é que eu estou incluindo ao replicar velhas ideias?
Companheiras(os) piratas, vamos reformular nosso programa e documentos oficiais? Porque como é que daremos espaço para todas(os) se insistimos na manutenção do espaço daqueles que já têm espaço para em segundo plano pensarmos no espaço daquelas que historicamente tiveram menos espaço e que hoje estão reivindicando, justamente, o espaço que sempre mereceram?
Falar em todos já não contempla todos(as). Falar em todxs às vezes confunde algumas(uns) leitoras(es). Falar em tod@s talvez não funcione em alguns casos. Poderíamos então falar em todas(os)?
Este é um exercício para todas(os). Quanto mais gente usando e influenciando, mais natural isto soaria aos olhos e ouvidos.
Da pra começar reformulando a descrição deste grupo, eu não posso porque o acesso é restrito a quem criou o mesmo.
Katherine Finn Zander Wed 24 Jun 2015 2:34PM
legal legal, gostei - aplicarei.
Iuri Guilherme Thu 25 Jun 2015 3:20PM
@paulomartinsdacost um dos fundamentos feminista é o de que é necessário contrapor um processo histórico que têm privilegiado um dos lados da balança (assumindo que há uma dicotomia entre macho e fêmea) que é conhecido como patriarcado.
Privilegiar um lado em detrimento de outro é uma forma de ativismo político comumente chamada de "reparação histórica". É uma forma de discriminação semelhante às cotas raciais.
Quando a gente adota a postura social democrata de "dar voz pra todo mundo" na verdade estamos fechando os olhos para o fato de que tem personagens que já tiveram muita voz e personagens que tiveram muito pouca voz.
Se for pegar tudo o que tu escreveu pode até ser que exista um balanço, mas se for pegar o que todo mundo já escreveu então estatisticamente o masculino ainda prevalece por algum tempo.
Daí a legitimidade em "descartar" o masculino com segurança.
É uma das formas que as pessoas que estão vivenciando a eventualidade de ser homem têm para praticar feminismo.
Barney Thu 25 Jun 2015 11:25PM
pensarei sobre o caso. Ainda não tenho opinião formada
Fabiane K Bogdanovicz Wed 1 Jul 2015 11:43PM
Eu, particularmente, gosto do x como estratégia para romper o binarismo de gênero, mas só funciona na linguagem escrita (na fala, é possível algumas vezes usar a letra "e", como "menine", em vez de menino ou menina, seguindo a mesma lógica contra o binarismo). Eu gosto do x porque demonstra que ali existe alguma coisa, causa uma inquietação, o "x da questão", deixa uma marca bem marcada onde existe a invisibilidade das pessoas não-binárias....
Uma amiga minha, que é ativista trans (que inclusive chegou a fazer parte do Partido Pirata por um certo tempo, alguns anos atrás), advoga contra o uso do x, a favor do uso da linguagem neutra ( https://naobinario.wordpress.com/2014/11/01/deixando-o-x-para-tras-na-linguagem-neutra-de-genero/ ), que é a estratégia que eu tenho usado na fala, mas eu ainda gosto do x na escrita pra causar o desconforto e desnaturalizar o binarismo.
Iuri Guilherme Thu 2 Jul 2015 1:38PM
Eu também sempre usei o x com esta mesma postura.
Entretanto, além de causar problemas para a sociedade preconceituosa, isto causa problemas para deficientes visuais e demais pessoas que precisam de leitura de tela ou dependem de outras ferramentas de acessibilidade para ler sites.
Kristian Brito Pasini Tue 28 Jul 2015 2:51PM
Entendo que o recurso que quer atacar na língua preconceitos tem que ser inclusiva, não pode combater machismo sendo capacitista ou excluir os trans não binários da conversa.
Gosto da forma como está no programa. Adotar "pessoa", que é no feminino mas é universal.
Pessoa trabalhadora ao invés de trabalhador. Pessoa usuária de drogas ao invés de usuário de drogas.
Não é capacitista, reforça o gênero feminino na redação.
Barney · Tue 23 Jun 2015 6:28PM
interessante. Eu já escrevi algumas coisas sempre tentando colocar em estilo aleatório, alternando masculino e feminino nas palavras