apoio dos Piratas ao aplicativo 99models
O 99 Models é um aplicativo para celular que permite que acompanhantes encontrem clientes sem intermediários e sem custo. Modifica de maneira perpétua a relação dos clientes para com acompanhantes, onde antes sempre existia um atravessador.
A ideia é criar um ambiente seguro para ambos, acompanhante e cliente, sem a possível e provável exploração ou chantagem de um intermediário. É uma plataforma que visa segurança e autonomia de pessoas que oferecem o serviço de acompanhante.
O desenvolvimento futuro do aplicativo prevê, inclusive, um trabalho de ampliação da plataforma para um público que inclua o público LGBT. É especialmente importante para transsexuais que são alvo mais agudo de violência.
O grupo 99models relata dificuldade com a divulgação da plataforma que está apenas começando, além de preconceito com o tema, por isso recorreram aos Piratas.
O manifesto completo como sugerido pelo grupo 99models: https://drive.google.com/file/d/0B3y532dRK9stTEF4TFA5QnJ5bkZtckVrRzdPWFY5bl9yX2pB/view?usp=sharing
Vicente Marinho Thu 26 Mar 2015 2:46PM
Katherine, quem tem que colocar se é uma escolha ou não é quem está na situação. Nós não podemos calar as profissionais do sexo que estão lutando pelos seus interesses apartir de um paternalistico principio de que nós sabemos melhor dos interesses delas do que elas mesmas. Se este é um assunto que deve ser primordialmente debatido por mulheres, ele precisa ser primordialmente debatido por mulheres que são profissionais do sexo também - por quaisquer que sejam suas motivações.
Ana Trevizoli, acho que seria interessante para gente conhecer um pouco mais sobre vcs e o aplicativo de vcs. De quem veio a idéia de criar o aplicativo? É uma iniciativa de profissionais do sexo (ou pelomenos profissionais do sexo fazem parte)?
Overall tenho problemas com a idéia de darmos manifestação de apoio (e hence plataforma de marketing apartir de nossa presença de rede social) para um app de forma geral. Especialmente see não estamos familiarizados, não conhecemos a experiencia de quem (teoricamente) sai beneficiado. Mais do que conversar entre as mulheres do partido, acho que o partido precisa conversar com profissionais do sexo usuarias deste aplicativo e suas experiencias e vantagens no uso do aplicativo. Precisamos entender qual o uso deste app, como foi feito? é iniciativa um coletivo de profissionais do sexo? Por que se for, aí faz muito mais sentido de fato apoiarmos....
Katherine Finn Zander Thu 26 Mar 2015 3:15PM
a ideia nunca foi calar ninguém, muito menos privar a profissional do sexo de se manifestar. só penso que essa é uma questão que concerne à todas as mulheres em geral e não apenas às prostitutas. até porque isso altera de forma radical o projeto de sociedade que estamos visando construir.

Lucas Fernando Amorim Thu 26 Mar 2015 3:30PM
Meu nome é Lucas Fernando Amorim e junto da Ana Trevisolli, Marcelo Aires Caetano e Murilo Ijanc desenvolvemos o aplicativo 99 Models justamente depois de lermos esse blog POST [http://muchachaputana.blogspot.com.br/2013/03/prostituicao-x-exploracao.html?zx=825fe567eac980db], sugerido pela Ana Trevisolli em um dos nossos hack weeks de brasília, onde criamos soluções para problemas.
Gostaria de responder a Katherine Finn. Esse contrassenso sobre autodeterminação não faz muito sentido, largamente se sabe que muitas pessoas, não apenas mulheres, se prostituem por livre e expontânea vontade. A prostituição é sim uma opção, como segue o relato dessa garota.
Além disso mesmo que não fosse opção, acho que é obrigação de todos nós darmos condições mais dignas a todos. ""
Acreditamos que quem decide se prostituir não deve por isso estar a margem da sociedade, ter menos direitos ou qualquer coisa assim, não deve ser marginalizado e com isso explorado. Criamos o aplicativo justamente para que as pessoas não tenham intermediários, a famosa figura do cafetão que leva metade ou mais do programa, escraviza a pessoa e ainda é muito violento.
Quanto a transexuais, homens e outras opções, o 99 Models foi criado para as mulheres, isso porque fizemos o aplicativo em uma semana, não deu tempo de adicionarmos outros gêneros, decidimos começar onde há um público maior. Esta nos nossos planos expandir o 99 Models sim para transessuais e outros gêneros em aplicativos iguais porém com outros nomes, esse aplicativo é um MVP e sua métrica de sucesso é o quanto ele foi capaz de mudar a realidade de exploração, marginalização e discriminação.
Gostaria de contar com o apoio do piratas para levantar essa bandeira, já que sozinhos ficamos muito vulneráveis a ameaças de cafetões e outros envolvidos nesse esquema que lucra BILHÕES com a marginalização da profissão, fazendo de vítima justamente quem se prostitui.

Philipe Mota Thu 26 Mar 2015 6:25PM
Concordo com a @katherinefinnzande no ponto em que realmente há uma parcela (majoritária eu diria) de pessoas que trabalham na prostituição por falta de oportunidade ou por qualquer outra forma de opressão que invalide o argumento de autodeterminação. Mas há também, um contingente (minoritário) de pessoas que se prostituem por autodeterminação.
A prostituição já é legalizada no Brasil! E isso não deveria mudar. Acho que a proibição levaria pessoas que já estão marginalizadas para a clandestinidade e seriam alvo, também, da violência policial.
De qualquer forma, a prostituição como consequência de fragilidades socio-econômicas realmente não se enquadra na autodeterminação e deveria ser tratada de forma especial em separado. Com acompanhamento de agentes sociais e inventivos para criar oportunidades.
Porém, na questão específica do aplicativo, não vejo como poderíamos fazer essa separação ou sermos contra essa ferramenta. Na pior das hipóteses, esse aplicativo traria benefícios para as pessoas que se prostituem por falta de oportunidades ao facilitar a sua autonomia e contato direto e prévio com o cliente.

Alexsandro Albuquerque Fri 27 Mar 2015 5:52PM
Considerando que o apoio ou não apoio do PIRATAS ao reconhecimento da profissão de prostitutx não nos permite, enquanto Coletivo, decidir pelo apoio oficial a iniciativas com esta, mas não impede que cada Pirata se posicione individualmente, tanto contra quanto a favor.
DanPrazeres Fri 27 Mar 2015 6:23PM
Pedindo licença para dar minha pouco embasada opinião:
1) No meu mundo utópico a prostituição não existiria por não acreditar que esse tipo de serviço é comprável com dinheiro
2) Mas não estamos no meu mundo utópico, então no mundo real concordo com o @philipemota em tudo
3) A questão da prostituição por falta de oportunidade ou por autodeterminação é algo bem complicado de se medir, mas achar que as prostitutas todas o fazem por autodeterminação é um erro
4) Pelo fato de querer o fim da prostituição, acho que apenas a regulamentação pode diminuir, ao invés de aumentar. Então não encaro como um incentivo
5) Sobre o modelo sueco (que se discutiu bastante na assembleia) deixo esse link para avaliarem http://theconversation.com/the-nordic-model-of-prostitution-law-is-a-myth-21351¨
6) mas repetindo, eu não tenho muito conhecimento no tema, mas acho que as únicas recomendações que podemos dar ao aplicativo é: lembrar da questão da privacidade e ao mesmo tempo fornecer mecanismos de denúncia a ponto de proteger tanto a pessoa prostituta quanto a pessoa cliente. Esse terreno é muito pantanoso, principalmente no que tange pessoas querendo fazer mal a outras, e mesmo sendo pequeníssimas minorias que queiram fazer mal a outras pessoas, isso pode acontecer.

Kristian Brito Pasini Tue 31 Mar 2015 5:39AM
No mundo ideal, prostituição não existiria, nem aborto.
Não estamos no mundo ideal. No mundo real taxa de aborto e mortalidade diminui, com legalização de aborto.
No mundo real, regulamentar prostituição protege pessoas tanto quanto regulamentar tantas outras profissões pouco gratificantes e potencialmente exploradoras protege. Não que regulamentação seja epítome da resolução de problemas, mas não é negando a prostitutas isso que vamos avançar na questão, pois isso foge ao senso comum.
Foge ao senso comum, que legalizar as drogas é positivamente melhor que tornar ilegal, tanto para quem consome recreativamente como para quem quer sair das drogas... mas é verdade.
Contra o senso comum e ante a realidade empírica, defendo sim a regulamentação da prostituição.

Barney Tue 31 Mar 2015 1:23PM
no meu mundo ideal não existiriam prostitutas por falta de opção, mas por autodeterminação, pq não?
DanPrazeres Tue 31 Mar 2015 2:11PM
Já que é em termos de mundo ideal, no meu (frisa-se) as pessoas não precisariam usar o sexo como moeda de troca de qualquer coisa, principalmente dinheiro. As pessoas fariam sexo seja para ter prazer, seja por amor, e não pensando em outra coisa no lugar. Mas enfim, nesse caso é bom mesmo a gente não tratar no utópico mas pensar em como melhor na prática para tods prostituts.

Barney Tue 31 Mar 2015 2:43PM
e teria um unicórnio cavalgando arco-íris? hahahaha
DanPrazeres Tue 31 Mar 2015 2:51PM
Ué, e por que não? Cada um limita sua utopia como quiser.

Kristian Brito Pasini Wed 1 Apr 2015 12:44AM
Unicórnios são legais

Lucas Fernando Amorim Mon 6 Apr 2015 2:06PM
Gostaria de convidar a todos para um hangout amanhã às 20h para que possamos discutir melhor os pontos levantados nessa thread. Eu como também um pirata e kopimista gostaria de ouví-los para o desenvolvimento da versão final do 99 Models. Temos também toneladas de material, como entrevistas com GPs que gostaríamos de compartilhar.
Link do Hangout: https://plus.google.com/hangouts/_/gvoo7wgxblvrve4aggorjmxusya?hl=pt-BR
Tatiana H. Kawamoto Tue 28 Apr 2015 3:48AM
desculpa o sumiço, gente, começando trampo novo. Ainda vou ler tudo que foi comentado, prometo!
Vim aqui rapidim para acrescentar um link de um grupo de prostitutas argentinas que me indicaram. De repente, vale um papo com elas também :)
http://www.ammar.org.ar/
Tatiana H. Kawamoto Thu 16 Jun 2016 3:01PM
Artigo interessante sobre o tema: http://azmina.com.br/2016/06/artigo-amara/
Eu conheci esse ano um coletivo que trabalha com o tema de prostituição dentro da política de redução de danos. O que é um espaço de acolhimento mesmo dentro da lógica proibicionista. Penso que é um avanço.
KaNNoN Thu 16 Jun 2016 7:45PM
Atualmente, com base nas decisões coletivas, não poderíamos apoiar este aplicativo.
Na ANAPIRATA 2014 decidimos que iríamos abrir diálogo e conversar com profissionais do sexo, entidades ligadas a questão e ativistas.
Precede qualquer tipo de apoio neste sentido um novo programa, debatido e deliberado, focado neste tema.

Barney Fri 17 Jun 2016 2:46PM
Acho que vamos perder o bonde da história se não apoiarmos esse tipo de iniciativa
KaNNoN Tue 21 Jun 2016 7:31PM
Concordo.
É urgente reforma do programa para que possamos apoiar, principalmente, qualquer tipo de iniciativa não governamental que dê empodere as trabalhadoras sexuais.
Mas não podemos atropelar a situação atual que foi colocada em ANAPIRATA 2014.
Tatiana H. Kawamoto Wed 29 Jun 2016 7:14PM
Só estou reunindo o material para alimentar o debate informado, tendo em vista justamente o que aconteceu na ANAPIRATA 2014.
Acredito que a relação que se cria como serviço sexual, baseado em prestação de serviço, é diferente da prostituição mais simples e direta de ofertar o próprio corpo como mercadoria. Se abstrairmos para a relação de troca monetizada, podemos fazer relação com prestação de serviço versus venda de força de trabalho/corpo, esse último tende ao trabalho escravo, mesmo quando a suposta troca não envolva o tabu sexual. A forma de apresentar a relação afeta diretamente a maneira como a pessoa lida com o "pagador", a relação de uma prestação de serviço foca na habilidade técnica da prostituta, o contrato é outro, e pode não se encaixar em uma objetificação que afeta todas as mulheres como alegado acima. A objetificação é mais clara na segunda situação, mas como dito, a relação de compra de pessoas é perversa em outras relações de trabalho.
Sobre o 99models, eu concordo com o argumento do Daniel Siqueira postado em outro tópico. A plataforma trás um serviço interessante de autonomia e diminuição da influência de intermediários, contudo, precisaria ser estruturado em uma plataforma livre e não em um sistema que vise lucro, já que esta é uma brecha que pode levar à exploração dos usuários.
Renato Martins Fri 9 Dec 2016 3:19AM
Nao ha contradicao entre ser feminista e defender os direitos das trabalhadoras sexuais. Temos varios artigos sobre isso em www.mundoinvisivel.org.
Mais do que isso: voce pode ser a favor do fim do sexo pago e ao mesmo tempo defender os direitos das pessoas que vivem disso.
Pense bem: o comercio de sexo existe ha uns 5 mil anos e praticamente todos os sistemas politicos tentaram aboli-lo, das democracias mais abertas as ditaduras mais ferozes. E nao conseguiram. Quanto tempo seria necessario p estabelecer uma sociedade na qual nao mais existam aqueles aspectos do patriarcado que dao sustentacao a prostituicao? Duas geracoes? Tres?
E enquanto isso... Enquanto isso, como eh que ficam os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoraa sexuais? Sao homens e mulheres cis e trans cujos direitos sao cotidianamente reprimidos ou ignorados. Regulamentar o exercicio da profissao seria um passo importante para a superacao do estigma social que a cerca.
Mas isso nao seria legalizar o cafetao?
Sim, eh claro que sim. Mas vamos desmistificar essa palavra: o cafetao/cafetina nao passa de um empresario; do ponto de vista das trabalhadoras, ha patroes piores e ha patroes melhores, mas todos sao exploradores.
E nao eh assim tambem em qualquer outro setor? No capitalismo, todo trabalhador eh explorado. Legalizar o cafetao teria o merito de jogar alguma luz sobre essa categoria, identificar laranjas e estabelecimentos usados para lavagem de dinheiro etc. E tambem ajudaria a combater a corrupcao policial, que eh onipresente.
A quem interessa que as coisas continuem como estao?
Katherine Finn Zander · Thu 26 Mar 2015 1:40PM
Sobre autodeterminação nesse caso acho que temos um contrassenso:
1. Sou livre logo me prostituo
2. Não tive outra escolha logo me prostituo.
O dia em que for consensual que prostituição é autodeterminação porque as moças são livres pra escolher (e moças sim, pois em maioria bruta são mulheres cis e trans), eu vou me internar num manicômio pra sempre, porque meu nível de loucura não vai me de deixar viver nesse mundo super livre e vou preferir ser enjaulada.
estamos falando de prostituição por vocação? Do tipo “desde criança quero ser prostituta, sempre sonhei com isso”. parece que estamos em um mundo em que todas as mulheres têm todas as condições para “escolher” entre ser médica, professora universitária, empregada doméstica, prostituta, advogada...
ainda, fazendo um paralelo com o suicídio: você não pode impedir uma pessoa de se matar, mas pode evitar. O suicídio não está projeto de sociedade que queremos, mas não tem como proibir que isso ocorra. No meu entendimento a prostituição vai por aí, não está no projeto de sociedade que queremos, pois não queremos viver num mundo onde os homens ainda compreendem os corpos como mercadoria e se apropriem deles, mas não acho que seja algo para ser incentivado.
“Ao se referir à prostituição como um trabalho, essa perspectiva liberal não entra no que é a diferença entre vender a força de trabalho e a apropriação do corpo. Ou seja, não é o que a prostituta pode fazer, mas é seu corpo. Como diz Marie Victorie Louis (2004), essa visão “postula que as pessoas – e não só as coisas, podem ser objetos de contratos e contradiz abertamente o princípio universal segundo o qual o corpo humano é inalienável.” As propostas de regulamentação são apresentadas a partir do argumento de que a prostituição é um trabalho como outro qualquer, que cada pessoa vende algo e, neste caso, as mulheres vendem o corpo. Por isso, devem ser consideradas trabalhadoras do sexo. assim, parece que a prostituição é algo de homens e mulheres, já de início ocultando seu caráter patriarcal e as relações desiguais”.
FONTE:
http://br.boell.org/pt-br/2014/05/10/quem-serve-regulamentacao-da-prostituicao
Eu não tô aqui pra foder a vida de quem se prostitui, porque já é uma vida desgraçada, mas acho que a política que proponho é em sentido contrário: é de evitar que se chegue à prostituição, dar possibilidades de novos caminhos, com maior autonomia e aí sim autoderminação para ser quem se é.
No vídeo que a Tati postou a travesti (que hoje trabalha como camareira por conta da fama que conseguiu com os vídeos na internet), fala que não existe emprego pra travesti que não seja a prostituição, porque as pessoas não dão emprego pra travesti. Então cadê a autodeterminação nessas horas?
Prefiro assumir que emprego tem relação com classe econômica e sim, com gênero também. Para fazer um paralelo: quantas meninas são aviãozinho de tráfico? Quantas delas viram traficantes? E quantas delas se prostituem? E ao contrário, quantos dos meninos se prostituem ao invés de virarem aviãozinho?
Até o PSOL já está revendo o posicionamento da lei Gabriela leite... vamos ficar sempre atrás deles?
Voto pelo fim do preconceito e descriminação com as prostitutas cis e trans, mas vou bater o pé até o fim, prostituição não é vida fácil, não é escolha: não há liberdade de ser, não há autodeterminação.
Deixo uns textos de referência:
https://comiteabolicaoprostituicao.wordpress.com/
http://br.boell.org/pt-br/2014/05/10/quem-serve-regulamentacao-da-prostituicao
https://vozdavulva.wordpress.com/2014/08/04/porque-abolir-a-prostituicao/
http://www.jafnretti.is/jafnretti/?D10cID=ReadNews&ID=523
Opinion polls have shown that up to 70% of the population supports banning the purchase of sexual services. In 2003, fourteen organizations, including many women’s organizations, challenged Icelandic parliamentarians to legalize such a ban.